Minha mãe fez sua terceira viagem para a Nova Zelândia, desta vez para cuidar da minha irmã durante o período de confinamento.

Ela é uma mulher dos anos 1970, nascida e criada no campo, onde passou sua vida cuidando da terra. Seu casamento não foi feliz, mas naquela época, o divórcio nem sequer era uma ideia que passava pela cabeça de uma mulher. Ela investiu toda a sua energia apenas em sobreviver.

No início da juventude, ela ganhava pontos de trabalho na equipe de produção, levantando antes do nascer do sol para ir aos campos. Depois, quando a terra foi contratualizada para as famílias, ela sozinha cultivou cinco acres de arroz. Quando se mudou para a cidade para trabalhar, um agente desonesto a enganou e roubou seu depósito.

A frase que ela mais dizia para mim era, "Você não entende." Eu não conseguia entender por que ela escondia dinheiro dentro de um pote de arroz em casa, por que suportava dores de dente ao invés de ver um médico, ou por que sempre dizia, "É uma bênção sofrer perdas."

Agora, à medida que envelhece, a única teimosia que ela mantém é, "Não seja uma carga para os filhos."

Apesar de nunca ter viajado muito em sua vida, ela enfrentou um voo de 12 horas por sua filha. Ela não fala inglês, não lê placas de rua, e não está acostumada com a carne local. Até mesmo o arroz no supermercado a confunde. No entanto, ela nunca reclamou, silenciosamente suportando as dificuldades, sempre consciente de não ser uma carga.

Ela chegou com uma mala cheia de gengibre, batata-doce seca e vegetais desidratados, como se estivesse se mudando. Ela explicou que esses itens não estão disponíveis aqui e estava preocupada que nós pudéssemos sentir saudades dos sabores da nossa terra natal.

Ela tem pressão alta e não trouxe medicamentos suficientes. Durante os dias que antecederam o parto da minha irmã, ela sofreu de insônia e dores de cabeça intensas, mas ela segurou firme sem dizer uma palavra—“O tratamento médico é caro, não seja uma carga para os filhos.” Não foi até uma chamada de vídeo que ela foi forçada a revelar a verdade.

Isto me lembra uma linha de "A Lenda de 1900": "Essa cidade é tão grande, parece interminável. O que me impede não são as coisas que vejo, mas as que não vejo." Para minha mãe, a Nova Zelândia é assim. As placas de inglês nas ruas, os cortes de carne desconhecidos no supermercado, e até mesmo o sol, que parece "não tão quente quanto em casa", tudo isso fazem com que ela se sinta fora de lugar.
Ela disse, "Depois dessa viagem, eu não voltarei." Não é apenas uma declaração dramática; ela está genuinamente apavorada. O enjoo e vômito da viagem de volta de 12 horas deixaram-na completamente exausta, e o medo de adoecer e ter que enfrentar tudo sozinha permanece.
Muitas vezes assumimos que nossos pais devem se adaptar a novos ambientes, mas esquecemos que a geração deles está profundamente enraizada no campo. Sua sensação de segurança vem de vizinhos familiares, das chamadas do mercado, e até de um punhado de gengibre seco. Não é que a Nova Zelândia seja ruim; simplesmente não pode acomodar os hábitos que desenvolveram ao longo de uma vida inteira.
Antes mesmo de ela pisar novamente em casa, fui incumbido de comprar uma variedade de suprimentos agrícolas para serem entregues e prontos para ela desempacotar ao retornar. Na primeira semana de volta, ela mencionou estar muito ocupada para fazer chamadas de vídeo, pois estava cuidando de suas galinhas e plantando vegetais. Ela descreveu o ar em casa como carregado com o cheiro reconfortante da terra familiar.
Durante uma de nossas chamadas de vídeo, eu a vi parada no pátio, o sol lançando uma luz quente sobre as mudas recentemente plantadas. A maneira como ela se abaixava para arrancar ervas daninhas era tão meticulosa e dedicada quanto havia sido trinta anos atrás nos campos. Sei no fundo do meu coração que ela nunca mais virá à Nova Zelândia — não porque ela não nos extra, mas porque todo o seu mundo agora está centrado naquele pequeno, mas adorado pátio.
Essa história me lembra como as expectativas de viagem nem sempre correspondem à realidade. A mãe do autor sofreu tanto que até um lugar bonito como a Nova Zelândia não foi suficiente para mudar sua perspectiva.